08 agosto 2008

Conferência em Iturama (III)

Eis aí o resumo da conferência que realizei na FAMA, em Iturama.

Cidadania global no século 21: Educação e participação social através das novas mídias

O século 21 tem sido marcado por um avanço exponencial das tecnologias de comunicação. Cada vez mais as novas mídias são incorporadas à vida íntima das pessoas, de forma que os indivíduos passaram a consumir uma quantidade avassaladora de produção simbólica em seu cotidiano. Na verdade, a própria cidade tornou-se uma revista eletrônica com seus inúmeros apelos mercadológicos. Os recentes projetos de conversão de conteúdo televisivo para os aparelhos de telefone celular apenas reforça a tendência de tornar as mídias definitivamente onipresentes na vida de cada indivíduo. Os cidadãos devem ser compreendidos, portanto, como sujeitos permanentemente envoltos nessa teia simbólica de produção de sentido do mundo social. Entretanto, meia dúzia de grandes conglomerados de comunicação efetuaram um verdadeiro oligopólio da produção e difusão simbólica planetária. Mas sob o signo de um falso multiculturalismo, essa produção difunde uma visão estereotipada das diferenças culturais e impõe obstáculos a compreensão das complexidades da experiência humana.

Nos países em desenvolvimento, são muito populares os discursos que procuram relacionar a cidadania ao incremento do consumo. Sabemos que um dos principais motores desta dinâmica é a divisão capitalista do tempo de trabalho e de lazer, quando os sujeitos são levados a produzir cada vez mais para que, no seu tempo livre, possam consumir e fazer girar as engrenagens. Nessa mercantilização do lazer, as mídias têm, mais uma vez, um papel primordial. A indústria de entretenimento oferece ao consumidor uma produção simbólica incessante, de forma que a própria vida social é representada através de um permanente espetáculo. Até mesmo a identidade cultural e a busca de sentido para a vida comunitária passaram a ser associadas ao consumo simbólico. Assim, tribos urbanas passam a se definir através da aquisição de acessórios em comum, pois assim se apropriam da imagem que a publicidade associa a determinadas marcas e reproduzem uma sensação de identidade já configurada pelo mercado de bens simbólicos

O gigantismo desta produção, aliada às ferramentas tecnológicas que permitem a seleção deste conteúdo, impõe verdadeiros labirintos à congnoscibilidade dos sujeitos, soterrados em uma avalanche de informação. Assim, com o controle remoto, surgiu o fenômeno do zapping – uma alternância contínua e aleatória do receptor frente à programação simultânea das emissoras. Com a Internet, observamos uma hipérbole desse fenômeno através do hiperzapping – uma dispersão do usuário por links que simplesmente se desviam do assunto original. Essa dispersão extrema do pensamento é apenas um dos sintomas dessa era da distração, marcada pelo individualismo hedonista, onde os consumidores de mídia, em busca de lazer, compram entretenimento doméstico e acabam consumindo uma imagem de mundo estereotipada.

Neste mundo midiatizado, é inevitável que a escola se aproprie definitivamente das novas tecnologias de comunicação para efetivamente participar do processo de construção de sentido para o mundo social. Para isso, já estão em desenvolvimento estratégias alternativas de cooperativismo e colaboracionismo midiático, utilizando conceitos como Copyleft e o Creative Commons, que assumem a dimensão política das tecnologias. As novas mídias reinventaram o conceito de participação social e não conseguem impedir que esses instrumentos sejam utilizados para a intervenção social e para a construção de uma nova ecologia mental. A escola deve se apropriar dessas mídias e fazer com que elas sejam um instrumento e uma linguagem voltados para a construção de um mundo com mais, liberdade, diversidade e tolerância.

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