22 outubro 2014

Mitos e mitologias políticas



Muitos analistas argumentam que a política é uma atividade eminentemente moderna, racional, e que aquelas paixões eleitorais são, acima de tudo, ideológicas e programáticas.
Nessa série de vídeos baseados na obra do historiador Raoul Girardet, eu vou demonstrar que grande parte dos discursos que fazem parte da imaginação política das pessoas, vêm das religiões, das crenças populares e da mitologia.

Sem perceber, porque é um fenômeno inconsciente, as pessoas se entusiasmam e  mergulham em um universo mitológico, repleto de conspirações demoníacas, profetas anunciando uma Era de Ouro e heróis prometendo conduzir o povo unido a uma Terra Prometida.

Não há ateu na política.

Ao lado da história política tradicional, que tem contribuído muito para a compreensão da dinâmica histórica, existem algumas vertentes de pesquisa que se interessam por dimensões mais sutis da realidade.

Esse é o caso da História Cultural, que estuda os discursos pelos quais as pessoas criam sentido para o mundo; da história das ideias, que investiga o surgimento e desenvolvimento dos conceitos num plano intelectual, e da história das mentalidades, que analisa as relações entre a imaginação das pessoas e o seu tempo histórico.

Esses estudos levam em consideração o fato de que a história e a cultura também são constituídos por nosso inconsciente. Não é só a razão humana que cria a realidade histórica.

Muitos fenômenos sociais só podem ser compreendidos de forma ampla se a gente considerar a dimensão irracional ou inconsciente desses fenômenos.

E o que se percebe é que em momentos de crise, seja ela política, econômica ou social, as pessoas ficam ainda mais suscetíveis ao que Girardet chama de “efervescência mitológica”.

Denúncia de uma conspiração maléfica que teria o objetivo a submeter os povos à dominação de forças obscuras.

Imagens de uma Idade de Ouro ou de uma Revolução redentora que conduziria a humanidade ao reino da justiça.

Apelo ao grande líder salvador, restaurador da ordem ou conquistador de uma nova grandeza coletiva.

Girardet demonstra que essas narrativas costumam estar presentes no segundo plano das grandes doutrinas políticas da história. E pra ele, a análise dessas mitologias ajuda a explicar a atração irresistível que muitas dessas ideias exercem sobre os seguidores.

Qual teria sido o destino do marxismo, por exemplo, se ele ficasse apenas com o seu sistema conceitual e seu método de análise e não tivesse aquele apelo profético e aquela visão messiânica que o caracteriza?

Cruzadas e guerras santas, incluindo o terrorismo, revoluções, golpes de Estado com discurso salvacionista, nostalgias de um passado idealizado e o culto dos seguidores aos líderes carismáticos também revelam a presença de componentes míticos e mesmo e religiosos em circunstâncias aparentemente laicas.

E como em toda mitologia, é aí que o mito se mostra autônomo, fechado em si mesmo, interessado apenas na auto-afirmação. Ou seja, quando a disputa se torna mitológica, a posição ideológica acaba impactando menos do que a sensação inconsciente de participar de uma batalha mítica do bem contra o mal.

Daí, talvez, o acirramento de ânimos de antagonistas que passam a odiar uns aos outros por diferenças... aparentemente políticas.
Girardet analisa quatro grandes conjuntos mitológicos que, pra ele, ajudam a explicar muitos movimentos da história. A conspiração. A idade de ouro. O salvador. E a unidade. E nós vamos discutir em detalhes cada um desses temas na série mitos e mitologias políticas.

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