19 março 2020

Estes Medicamentos Antigos Prometiam Curar Qualquer Coisa! #SQN





Em tempos de crise de saúde pública é muito comum observar o desejo por soluções mágicas para os problemas reais. Em vez de ouvir os especialistas e fazer o que “tem que ser feito”: ou seja, lavar as mãos com mais frequência, evitar contatos físicos e aglomerações, ficar mais em casa, na medida do possível, até passar o pico do contágio; muita gente comete um dos dois erros.

1) Ou deixa pra lá, sem muita consciência sobre as consequências reais da doença. Ou seja, negam que existe problema. Dizem que é exagero, fantasia. E acabam agravando a pandemia, imaginando que basta ignorar que vai dar tudo certo.

2) Ou então, começam a entrar em pânico. O outro extremo. E aí exageram e caem na lábia daqueles que lucram com a ingenuidade das pessoas. E começam a desperdiçar dinheiro com coisas que não são necessárias. E que, frequentemente, até fazem mal.

E é interessante ver também que às vezes esse pensamento mágico vem disfarçado de ciência. Ou seja, as pessoas interpretam as conquistas científicas como se fossem milagres. Há uma espécie de “crença” nos poderes mágicos das palavras e dos conceitos de ciência, que é muito parecida, ou que tem a mesma natureza da crença nas evocações mágicas e religiosas. Talvez porque, para muita gente, por conta das próprias deficiências na formação científica, a ciência parece tão misteriosa quanto as religiões.

Poucas pessoas sabem como realmente funciona a física e a engenharia do Wi-Fi, por exemplo. Então essa tecnologia acaba sendo interpretada como uma espécie de magia.

Não é à toa que é comum ouvirmos por aí: a “magia” da computação, os “milagres” da tecnologia... Além do fato de que há religiosos que, provavelmente por medo de alguma “concorrência”, por supor que a educação em ciência reduz a fé; ou por jurar que cientista vai induzir as pessoas ao ateísmo; ou talvez apenas para reforçar o poder milagroso e curativo da fé; acaba menosprezando ou mesmo desqualificando e desacreditando a ciência.

E isso é perigoso.
Não precisa ser assim.

Mas é neste contexto que vemos termos científicos sendo utilizados como palavras mágicas para curar as pessoas. No nosso século isso continua comum. “travesseiros magnéticos”, “sal quântico”... Eu já vi “harmonizador floral para o reequilíbrio energético em desbalanços dos radicais livres”.
Percebam: são palavras misteriosas da ciência – misteriosas para não-especialistas, ou seja, para a maioria de nós – retiradas do seu contexto, que são utilizadas para fins publicitários. Não querem informar e educar, que é o objetivo da ciência. Mas querem fascinar, encantar e lucrar. Uma das formas mais inteligentes para se educar e interpretar essas mensagens, sem cair na armadilha que ela nos oferece, é olhar para a História.

É normal termos dificuldade de fazer uma crítica aos termos comuns do nosso tempo, justamente porque estamos acostumados a eles. Eles fazem parte do nosso dia-a-dia. Não são estranhos. Repetimos esses conceitos automaticamente, sem “parar para pensar”. Mas quando observamos como os termos análogos, com a linguagem do seu tempo, eram utilizados no passado, temos condições de enxergar mais facilmente. Termos que eram habituais no passado parecem uma caricatura aos olhos contemporâneos.

E ao fazer esse exercício de enxergar como as pessoas no passado eram enganadas com imagens e palavras retiradas da ciência, mas fora do contexto, e com uma concepção mágica, podemos exercitar a capacidade de enxergar essas mesmas dinâmicas nos nossos tempos.
Todos os anúncios publicitários deste vídeo foram fotografados de um jornal do interior de Minas Gerais, o Lavoura e Comércio, sediado em Uberaba. Esses anúncios circularam muito na primeira metade de década de 1940.

Propagandas revelam muito sobre o período histórico em que são veiculadas. Se um produto é popular e se as propagandas são constantes, isso indica que a mensagem respondia a desejos verdadeiros das pessoas.

Então, atenção: não é que a mensagem é verdadeira. Mas os desejos que inspiravam a produção daquelas mensagens eram verdadeiros.





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