17 abril 2020

O Maior Desafio da Humanidade! (Nada será como antes)








Uma das coisas mais perigosas e erradas que a gente pode
fazer, nesse momento, é atribuir a culpa da pandemia a um determinado país.
Ouça com atenção antes de comentar. Principalmente se você já discorda desse
raciocínio. Ouça primeiro!
Eu já li nos comentários nos meus vídeos anteriores, gente
argumentando que o que a gente tem que fazer é fechar as fronteiras, boicotar a
China e interromper a globalização.
Só que isso não funciona. Neste momento, a quarentena, tudo
bem, é importante.
Mas essa é uma medida a curto e médio prazo, sabe? Não vai
ser assim para sempre. Mesmo se forem necessárias, né, como dizem, nos próximos
anos, algumas quarentenas intermitentes.
Mas até porque, atenção:
a melhor forma de vencer essa e as futuras pandemias, que podem
vir, e provavelmente vão vir, não é o isolamento permanente. Mas é a cooperação
entre os países.

Olha, várias epidemias já mataram milhões de pessoas no
passado. Essa não é a primeira.
Historiadores estimam que a peste negra pode ter matado
cerca de 200 milhões de pessoas no século XIV. Na Inglaterra, 4 em cada 10
pessoas morreram. Metade dos habitantes de Florença morreu nesse período. É
devastador.

A varíola, para vocês terem ideia, por causa de uma pessoa
contaminada, que chegou da Europa para a América Central, em março de 1520,
devastou a população.
Um terço dos habitantes morreu de varíola.
Sabe? E isso em uma época de transportes super precários.
Não havia nem jumentos para levar as pessoas para lugares mais distantes.
Em 1918 uma variedade de gripe se propagou por todo planeta
e contaminou meio bilhão de pessoas. Um quarto da humanidade na época. Então,
imagina! Estimativas falam de 100 milhões de mortos em menos de um ano. Muito
mais mortos do que nos quatro anos da Primeira Guerra Mundial. Olha a dimensão
disso!

E desde então o mundo se tornou ainda mais conectado, com
transportes mais rápidos, e por isso ainda mais vulnerável à disseminação rápida
dessas epidemias.
Sabe, então imagina: um sujeito infectado pode sair de
Tóquio e chegar a São Paulo em pouco mais de 24 horas de avião.
Então, olha só, imagina: de um dia para o outro um vírus pode
cruzar o planeta com muita facilidade.
E as próprias metrópoles, com aquela concentração de gente
se esbarrando o dia inteiro no ônibus, no metrô, nas ruas, esse é um espaço
muito mais propício para proliferação de vírus. São muito mais contatos.
Então por que é que a gente não foi ainda devastado por
outras epidemias? E nós tivemos. A AIDS foi muito séria. O Ebola. Então, por
que que as epidemias, nesse contexto de conexão, matam menos do que no passado,
em que as sociedades estavam muito menos conectadas?

A resposta é simples. Porque a melhor defesa que a gente tem
contra os vírus é a informação.

Nós vencemos as guerras contra as pandemias porque enquanto
os vírus, os nossos inimigos, eles vão se propaganda através de mutações
aleatórias, ou seja, eles atacam e se multiplicam às cegas; nós, seres humanos,
reagimos e contra-atacamos a partir da análise científica da informação que nós
coletamos sobre eles.
Ou seja, os vírus não estudam o nosso comportamento para
saber qual a melhor forma de nos derrotar. Mas nós estudamos o comportamento
dos vírus para saber qual é a melhor forma de derrotá-los. Isso é a grande
diferença. E isso é relativamente novo.

Sabe, na época da Peste Negra, no século XIV, ninguém tinha
a mínima ideia do que fazer.
O pessoal então imaginava que aquilo era alguma vingança dos
deuses, ou era ação de algum demônio, ou alguma coisa misteriosa no ar, mas
ninguém tinha noção de que essas doenças eram causadas por vírus ou bactérias.
Então as pessoas acreditavam em bruxaria e em criaturas
sobrenaturais, mas não eram capazes de imaginar que uma única gota de saliva poderia
carregar vírus e bactérias invisíveis, a olho nu, que poderiam provocar doenças
mortais. Era inconcebível um negócio desses.
Então por isso, quando as pessoas eram vítimas de alguma
pandemia, o que as autoridades faziam era... rezar. Mandar todo mundo rezar.

E aí mandavam fazer grandes cerimônias para os deuses, para
os santos. Só que o resultado dessas aglomerações era exatamente mais pessoas
infectadas.
Então, além de não ajudar em nada, ainda piorava a situação.

Mas foi a partir do século XX, recente, que os cientistas,
médicos e enfermeiros de todo o planeta começaram a trocar informações de modo
mais intenso. De modo mais científico. Através de redes.
E isso fez com que uma comunidade internacional de
pesquisadores e de profissionais de saúde passassem a entender melhor tanto a
movimentação dessas epidemias quanto a forma de combater as doenças. E foi
preciso muita ciência para isso. Isso não foi à toa.
A própria teoria da evolução, um fator que ajudou a explicar
como surgem novas doenças, por que os vírus do ano passado evoluem e se tornam diferentes.
E com o desenvolvimento da genética, sobretudo, os
pesquisadores chegaram a uma espécie de manual de instrução desses vírus. Eles
decodificaram as informações dos vírus. Então, se os medievais nunca
conseguiram compreender as origens da peste, os cientistas contemporâneos levam
duas semanas para identificar um vírus novo, sequenciar o seu genoma e
desenvolver um teste para detectar os infectados. Olha a diferença!
E é claro, entendendo como funciona os cientistas conseguem
desenvolver vacinas, desenvolver antibióticos – no caso das bactérias.
Aí foi desenvolvida toda uma estrutura hospitalar. E também
outra coisa muito importante: graças a essas descobertas novos hábitos de
higiene se tornaram padrão. Sabe, às vezes a gente não tem noção da revolução
que o hábito simples de lavar as mãos provocou na saúde pública. Quantas vidas
não salvou!

Mas vamos ver a importância da vacina.
Em 1967 a varíola tinha infectado 14 milhões de pessoas e
matou 2 milhões. Só que a partir daí houve uma campanha mundial de vacinação, e
em 1979 a varíola foi erradicada. Em 2019 não há registro de nenhuma contaminação.
Então, o que é que tudo isso deve nos ensinar?

Primeiro, aquilo que eu mencionei no começo. A solução não é
fechar as fronteiras permanentemente. A solução para a pandemia não é fechar
fronteira para sempre.
As epidemias se propagaram mesmo durante a Idade Média,
muito antes da revolução nos transporte e da criação das metrópoles. Então, não
adianta voltar à idade da Pedra. Não é isso que a gente quer.

Em segundo lugar, falei também, a história demonstra que a
verdadeira proteção contra pandemias vem da troca de informações científicas.

É por isso, e o Átila falou sobre isso na última live, que
quando uma cidade, uma região ou um país é atacado por uma determinada pandemia,
as autoridades têm que estar dispostas a compartilhar as informações com
transparência e honestidade.
Sabe? De uma maneira que outros países possam confiar nas
informações e contribuir para a solução de um problema que começa em algum
lugar, mas que pelas próprias características, pode se tornar global.
Então se hoje uma pandemia começou na China, é esse país que
tem as primeiras experiências e que, por isso, pode e deve ensinar ao mundo a
partir de suas experiências.
Mas é claro que, para isso acontecer, é preciso que as
autoridades de todos os países estabelecem uma relação de confiança e de
cooperação. Então, nesse ponto, as críticas são corretas. A China, assim como
qualquer outro país, precisa ser mais transparente.

E outra coisa. Essa cooperação internacional inclui as
medidas de quarentena. Porque se os países não confiam uns nos outros, além de
esconderem informações importantes, as autoridades acabam não fazendo o que
deve ser feito, com medo de ter perdas econômicas e de não contar com a
solidariedade internacional.
Ou seja, é claro que paralisar um país, para colocá-lo na
quarentena, vai gerar problemas econômicos graves. E inevitável. Mas se a
comunidade internacional firmar laços de solidariedade, todos vão saber que o
país vai ser apoiado nas medidas necessárias para impedir que o vírus se
propague. Por isso que essa cooperação é importante,

É extremamente importante saber que a propagação de uma
epidemia em qualquer lugar do planeta coloca toda a humanidade em risco. Isso é
da natureza das pandemias.
Porque os vírus evoluem. Eles sofrem mutações.
A maioria dos vírus são inofensivos. Só que algumas mutações
fazem com que alguns se tornem perigosos. Mais infeciosos e resistentes ao
sistema imunológico humano. E é justamente essa variação do vírus que vai se
multiplicar e se alastrar.

Então, se uma pessoa sozinha pode hospedar trilhões de vírus
que se replicam o tempo todo, cada pessoa infectada oferece ao vírus trilhões
de oportunidades para o vírus se adaptar às defesas humanas.
O Yuval Harari, o historiador, o autor do texto em que estou
me baseando para fazer este vídeo, ele compara essa dinâmica do vírus a um jogo
de loteria. Então, imagina só: cada ser humano infectado é como um jogo de
loteria para os trilhões de vírus dentro dele.
Ou seja, se um desses vírus evoluir e ficar resistente às
defesas humanas, o vírus ganha. E se multiplica. E se dissemina. E começa a
infectar mais, e infecta mais seres humanos que não têm essas defesas.

Então isso é muito sério. É muito importante que todos
tenham essa percepção. Um único vírus. Ou melhor, uma única mutação em um único
gene de um único vírus que infectou uma única pessoa em algum lugar do mundo
pode provocar uma pandemia.
Sabe, com o Ebola foi assim. Já tivemos caso na história,
desse jeito. Então, imagina, há alguns dias o planeta já havia alcançado 1,5
milhão de infectados com o coronavírus. Nesse exato momento pode estar
acontecendo, em algum desses infectados, uma mutação que deixa o vírus ainda
mais infeccioso.
 Sabe, é por isso que
um problema dessa natureza em um determinado país não é mais um problema só
desse país. É um problema do mundo todo. O mundo todo está envolvido.
Todos os países do planeta têm interesse que esse novo
vírus, ou uma eventual mutação ainda mais perigosa desse vírus, não se propague
de novo e contamine todo o mundo. E isso reforça, mais uma vez, a importância da
cooperação internacional.
Não basta proteger apenas o próprio país. É preciso proteger
todas as pessoas.
E isso já foi feito! Sabe, o caso da varíola.
A humanidade só conseguiu derrotar a varíola porque todas as
pessoas em todos os países se vacinaram.
Sabe, se um único país não vacinasse a sua população nessa
campanha a humanidade inteira estaria em perigo. Porque o vírus continuaria
evoluindo naquela comunidade infectada e poderia voltar a se propagar pelo
mundo.
Então, vale insistir. Há uma infinidade de vírus, em todo o
planeta, que estão em permanente evolução devido a mutações genéticas naturais.
Quando um vírus perigoso, devido a alguma mutação, consegue infectar um ser
humano em qualquer lugar do planeta, a espécie humana como um todo corre
perigo.

No último século a gente vem enfrentado esse desafio e a
gente tem vencido os vírus através de pesquisa científica, formação
especializada de médicos e enfermeiros, políticas de saúde pública e toda uma
infraestrutura de hospitais.
Só que há muitas portas de entrada para pandemias que ainda
precisam ser resolvidas. E a principal delas é que ainda há muita gente ao
redor mundo que não tem acesso a serviços básicos de saúde. Sabe, é um erro
pensar que a saúde é um problema individual, local, regional ou nacional.
Proteger uma população do outro lado do mundo é indispensável para proteger o
próprio país, a própria comunidade. Espero que isso fique claro. Não é um
problema individual. É um problema mundial.
Por isso que a gente tem que cuidar tão bem da informação.
A gente tem que ser muito responsável com a informação em
períodos de pandemia.
A gente tem visto que a crise não é só de saúde. Não é só
por causa do coronavirus que estamos perplexos. Há uma crise de informação, ou
uma crise de confiança que é tão séria quanto a pandemia. Sabe, e tem
prejudicado muito nos nossos esforços para superar essa pandemia.
Aqui eu vou citar ipsis litteris o que o Yuval Harari
escreve:
“Para derrotar uma epidemia, as pessoas precisam confiar nos
especialistas, os cidadãos precisam confiar nos poderes públicos e os países
precisam confiar uns nos outros.”
O problema é que, nós temos visto, nos últimos anos,
políticos irresponsáveis que fazem de tudo para desacreditar a ciência, para
desqualificar a universidade, e aí jogam a população contra os cientistas, contra
os professores, contra os pesquisadores. Fazem de tudo para enfraquecer as
instituições. Isso e muito sério, sabe?
Em vez de buscar a cooperação com outros países que tiveram
experiência, ficam criando intriga, disseminando preconceitos, jogando as
pessoas umas contra as outras, e tudo isso em um período crítico da história da
humanidade em que nós precisamos de ações políticas coordenadas.

Os próprios Estados Unidos cumpriram, eles esse papel em
2014, durante a epidemia de Ebola. E de certa forma, fizeram isso também na
crise de 2008 que poderia ter afundado o mundo em um colapso ainda muito mais
sério.
Só que nesses últimos anos os Estados Unidos, sob nova
direção, eles abriram mão desse papel político.
Sabe o Trump simplesmente, ára dar um exempço, cortou o
apoio a organismos internacionais, como a própria Organização Mundial de Saúde,
e perdeu as condições de liderar um grande movimento internacional de
cooperação.

E além disso a gente tem visto a disseminação, no Brasil,
inclusive, né, de muitos preconceitos contra países, xenofobia, o termo, e às
vezes vindos de membros do próprio governo.
Sabe, é um nacionalismo isolacionista que além de não ter
sentido, é perigoso em um mundo que precisa de cooperação, de ações
coordenadas.
Gente, se os líderes mundiais não se esforçarem para criar
um ambiente favorável à cooperação entre as nações, não seremos capazes de vencer
a pandemia.
E pior ainda, nesse clima, com esse tipo de líder, por tudo
o que eu falei, é mais provável que a gente acabe se tornando refém de novas
pandemias. Insisto: esse tipo de problema só pode ser resolvido com cooperação
internacional. Com informação de qualidade. Transparente.

Com otimismo, e com muito trabalho, sobretudo um trabalho de
educação, a gente espera que essa crise nos ajude a perceber o risco da
desunião entre os países. Se essa experiência global nos levar a um mundo em
que países ricos colaborem mais, em que a gente tenha mais disposição para
aprender e cooperar, vai ser um susto, mas vai ser um aprendizado.
Mas se a gente não aprender nada e continuar egoísta e
preconceituoso, o futuro não vai ser bom para ninguém. Nem para aqueles que
agora são privilegiados.
Então a principal batalha que nós temos, na verdade, é uma
batalha contra o egoísmo, o preconceito e a ignorância dentro da própria
humanidade.
Se a epidemia provocar mais desunião e mais desconfiança
entre as pessoas, o vírus vai ganhar.
Enquanto a gente continuar brigando entre si, a gente vai se
enfraquecer, e o vírus, ao contrário, vai se fortalecer e se multiplicar.
Mas, ao contrário, se a epidemia provocar um ambiente de
aprendizado e cooperação entre os países, a gente vai vencer a batalha não só contra
o coronavírus, mas contra qualquer epidemia que vier no futuro.

Espero que esse vídeo tenha sido útil.
Eu preciso dizer que o vídeo é 100% baseado no ensaio “Na
batalha contra o coronavírus, faltam líderes à humanidade”, do historiador
Yuval Harari.
E como prometido para você lá no começo de vídeo, você que chegou
até aqui, eu tenho um presentinho para você. Um ebook, que é onde eu me baseei
nesse vídeo, está disponível gratuitamente, oferecido pela própria editora, a
Companhia das Letras. Então você pode clicar nesse link aqui na descrição ou no
meu comentário fixado no final deste vídeo.
Eu recomendo amplamente a leitura.
E espero que este vídeo tenha sido uma boa apresentação das
ideias centrais do texto.



  


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