01 setembro 2006

Professores municipais precisam de aumento

André Azevedo da Fonseca

Você sabe qual é o salário inicial de professor de escola municipal? É inacreditável. Quando trabalha 20 horas por semana, ganha algo em torno de R$400 por mês. Professores estão sendo humilhados com esse salário. Como convencer os alunos que eles devem estudar para ser alguém na vida, se o próprio professor ganha R$400? Esse salário desmoraliza o docente e desautoriza seu discurso à favor do estudo. Os alunos se convencem que não vale a pena estudar, e eles têm razão! – Estudar para quê, se você que estudou tanto, e até tornou-se professor, ganha só R$400?

Como o professor ganha muito mal, tem muito profissional na cidade trabalhando 60, 70 ou mesmo 80 horas por semana em salas de aula, em uma tripla jornada de trabalho similar aos piores momentos da Revolução Industrial. Atenção: uma sociedade que desvaloriza o conhecimento de forma tão explícita jamais superará o atraso. Professores não podem ser maltratados. Eles são os fundamentos intelectuais de nossa sociedade. Maltratar o professor primário é corroer as bases de nosso futuro.

Para manter a cabeça aberta e desenvolver continuamente o espírito de aprendizagem, professores precisam comprar livros, assinar jornais e revistas, participar de congressos, ir ao cinema, viajar à Bienal de Arte, assistir aos festivais de música e teatro... Tudo isso é caro. Por isso, esses trabalhadores precisam gastar muito dinheiro para alimentar continuamente a inteligência, ou tornam-se repetitivos, mecânicos e antiquados, em um prejuízo intelectual que dividirá com os alunos. Para o docente, cultivar a cabeça não é luxo; é imperativo profissional. Professores devem entusiasmar os alunos, devem tornar-se referências sólidas para que eles interpretem criticamente a realidade. Profissionais desestimulados, desinformados e desinteressantes fazem com que os alunos passem a detestar a escola. Com razão. Humilhados com esses salários, os professores estão tristes. E o que os alunos mais precisam é de professores entusiasmados, inteligentes e felizes.

Uma distorção histórica agrava ainda mais as condições de trabalho do professor. Na regra geral este profissional recebe apenas pelo período em que está dentro de sala de aula, sendo que o momento em que mais trabalha é quando está preparando aulas, pesquisando textos, elaborando exercícios, revisando tarefas e corrigindo trezentas, quatrocentas avaliações. Esse trabalhador passa madrugadas e fins de semana exercendo seu ofício sem receber qualquer remuneração. Essa aberração na organização do trabalho do professor foi incorporada pela sociedade e ganhou ares de naturalidade. Mas é preciso consertar essa distorção bizarra: trabalhadores têm que receber para trabalhar.

É preciso ficar claro: para cumprir bem a função de educar as novas gerações, os professores precisam estar satisfeitos financeiramente; precisam sentir-se confortáveis materialmente; precisam de um salário que os leve a trabalhar em apenas um emprego, por não mais que 40 horas semanais, para ter tempo de ler jornais, comprar livros, viajar nas férias e de viver a vida com suas famílias. Professor não deve ter vergonha de reivindicar um salário do tamanho do valor social de sua função. O primeiro passo para aumentar de fato a qualidade da educação é aumentar o salário dos professores. Reformar escolas e comprar computadores também é importante, mas tendo em vista o salário do professor, todo o resto é secundário.

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