16 janeiro 2007

Hoje proferi um discurso na colaçao de grau dos alunos de Comunicação e Administração da Uniube. O texto foi assim:

O mundo é de vocês*

Ilustre professora Elsie Barbosa, vice-reitora da Universidade de Uberaba; ilustre professora Inara Barbosa, pró-reitora de ensino; ilustres professores homenageados e paraninfos; senhores coordenadores de curso, Raul Osório Vargas e Marco Antônio Nogueira; pais, mães, namorados, namoradas, companheiros, companheiras, familiares e amigos que nesta noite inesquecível participam deste interessante ritual de colação de grau. Sacis e anjos da guarda que se escondem sob as cadeiras desse anfiteatro, espíritos e ancestrais que nos observam atrás das cortinas; santos, deuses e orixás que nos assistem através das janelas...peço licença a todos vocês, porque como paraninfo dessa turma de formandos é a eles a quem gostaria de me dirigir nessa noite.

Meus caros colegas. Há alguns dias eu os chamaria de alunos, mas agora eu vejo que vocês estão diferentes. Não sei se é por causa do clima ritualístico dessa cerimônia; não sei se são essas becas de Harry Potter que traz a vocês uma aparência de aprendiz de feiticeiro; não sei se é essa pulsação de vida que bate tão intensamente no peito de vocês... Não sei o que é, mas alguma coisa está diferente.

Esse frio no estômago que dificulta a respiração, essa expectativa plena de paixão que escurece as vistas, essa sensação de estar prestes a se derramar de esperança. Tudo isso modificou cada um de vocês. Está na cara! Dê uma olhada para o colega ao lado. Vocês estão diferentes! Algo se meche dentro de vocês!

Mas ao mesmo tempo, vocês são os mesmos. Cada um de vocês está do mesmo jeito que estava ontem. Amanhã – ao acordar de ressaca, depois da festa – vocês estarão basicamente do mesmo jeito, terão as mesmas caras, o dia nascerá perfeitamente igual a todos os dias.

Como lidar, então, com essa sensação de que vocês estão iguais; mas estão diferentes? Que vocês se transformaram; mas são as mesmas pessoas?

Uma vez eu aprendi que, na vida, nós devemos ter muitas regras e poucos princípios – pois as regras nós devemos adequá-las a cada circunstância: há regras para conviver com amigos, outras para conviver com os colegas, outras para os pais, outras para os filhos. As regras mudam com o tempo. Nós envelhecemos e passamos a ter valores diferentes; as próprias leis que organizam a sociedade se modificam; regras são várias, são flexíveis, por isso devemos ter muitas regras.

Mas os princípios não. Devemos ter poucos princípios, porque estes, nós os levaremos intactos durante toda a vida. As regras podem mudar, mas os princípios permanecem conosco para sempre.

Tenho uma pequena coleção, de três ou quatro princípios, que levo comigo. Mas aqui gostaria de compartilhar apenas um deles com vocês. Um princípio que gostaria que levassem com vocês. A idéia não é ministrar a vocês, aqui, uma última aula – até porque a aula da saudade ainda está por vir – mas sim que sirva como uma conversa afetuosa de um padrinho, porque este é o papel do paraninfo – ainda que eu já considere que vocês são mais meus compadres do que meus afilhados.

Então, um dos princípios que trago comigo, portanto, é que “ganhar dinheiro” não deve ser “o objetivo” da vida profissional. Ganhar dinheiro não é “a finalidade” da profissão. E eu gostaria muito que isso ficasse claro, para não dar oportunidade aos cínicos de nos chamarem de idiotas.

O privilégio que temos de “existir”... – nós existimos, percebem como isso é fascinante? – então esse privilégio de viver, de estar vivo, confere a cada um de nós uma responsabilidade gigantesca com a humanidade. E existir “de verdade” não é apenas nascer, viver, ter um emprego qualquer, ir levando, até morrer; mas existir de verdade implica em deixar nossa marca do mundo, em movimentar o planeta com a nossa criatividade e o nosso trabalho.

Às vezes a gente se esquece, mas para que pudéssemos estar aqui, neste dia, nesta sala, é preciso lembrar que milhões de ancestrais tiveram que emergir das profundezas da inconsciência animal, tiveram que se conhecer, tiveram que se amar, tiveram que travar guerras sangrentas, que fugir para os campos, construir cidades, viajar pelo mundo, protestar contra injustiças, rebelar-se contra tiranos, matar, morrer; centenas, milhares de ancestrais tiveram que descobrir coisas novas, que inventar coisas novas, aprender novas linguagens, criar leis para defender direitos... ou seja, em síntese: para que pudéssemos estar aqui, nossos ancestrais fizeram e aconteceram. E é esse o objetivo de uma profissão, é esse o objetivo do trabalho: fazer e acontecer! Fazer a diferença!

É com o trabalho que transformamos o mundo; é fazendo arte, inventando moda, pensando em coisas que ninguém nunca pensou, descobrindo soluções para a vida das pessoas é que marcamos nossa existência no mundo. A sociedade precisa muito, muito de nossa inteligência e de nosso trabalho. É um grande privilégio formar-se em uma universidade, e esses anos de estudo não podem ter sido em vão. As pessoas precisam muito da gente.

Temos que “fazer coisas”, não podemos deixar de fazer coisas que façam valer a pena esse esforço de gerações para que pudéssemos estar aqui. Entenderam, então, porque o objetivo da profissão que escolheram, não é ganhar dinheiro? Que o fim não é o dinheiro? O fim é marcar o mundo com a sua presença, é transformar a história, é promover o bem estar de gerações que ainda nem nasceram, é explorar as possibilidades de ser humano com a criatividade aplicada ao trabalho. Assim é que nos humanizamos. Assim é que honramos as gerações que nos precederam.
Com esse princípio, com esse espírito criativo, com esse desejo de mudança, tendo uma paixão avassaladora pela profissão que escolheram, vocês serão os mesmos a vida toda, sendo diferente a cada dia. Sacaram? Essa ansiedade no pulmão de vocês, esse grito contido, essa esperança ansiosa deve ser movida por esse princípio. Existir! Existir pra valer! Ser humano! Fazer e acontecer. Deslocar a órbita do planeta.

E não tenham dúvidas: Com esse princípio, vocês terão um enorme prazer no exercício do trabalho. O trabalho não será um fardo, um desconforto, uma castração de suas potencialidades, mas um estímulo de vida, uma satisfação existencial, uma libertação. E aqui entre nós, sei que vocês sabem muito bem que aqueles que têm paixão pelo trabalho tendem a fazer bem feito, e sabem também que o mercado está sempre precisando de profissionais que façam bem feito. O mercado sabe valorizar a criatividade e a paixão pelo trabalho, porque o mercado precisa disso. Porque é com criatividade e paixão que o mundo gira. O objetivo da profissão não é o dinheiro, mas a paixão pelo mundo, a paixão pelas pessoas, a paixão pela vida, a ânsia de existir, de existir pra valer, de verdade!

Magnífico reitor, senhores coordenadores, pais, mães, namorados, namoradas, companheiros, companheiras, familiares e amigos que nesta noite inesquecível participam desta colação de grau. Sacis e anjos da guarda que se escondem sob as cadeiras desse anfiteatro, espíritos e ancestrais que nos observam atrás das cortinas, santos, deuses e orixás que nos assistem através das janelas...

Peço a todos uma bênção a esses futuros profissionais. Que vocês tenham uma vida repleta de criatividade, de paixão e de vontade de fazer e acontecer. Desejo a vocês uma vida plena de desafios estimulantes e conquistas iluminadas.

Voem, meus colegas, voem. O mundo é de vocês.


* Discurso proferido na colação de grau dos alunos de Comunicação Social (Jornalismo e Publicidade & Propaganda) e Administração da Universidade de Uberaba, na noite de 16 de janeiro de 2007.

4 comentários:

PiDiM d2 disse...

Fala aew professor
como q vai ??
aqui ta blz
=)
aulas chegando, mais ta tudo tranquilo.
tavo aqui na net d bobeira
aew resolvi entra no meu blogger
dai tavo lendo uns postes e lembrei
q eu resolvi akele exercicio de raciocinio ^^
eu e o Ze martins e axo q merecemos o seu livro
=x
HAUShASUhaUShaSA
mais to escrevendo aki so pra manda 1 "Alô!"
abraços aew !

@JoseAdolfo disse...

Grande texto André!!

Adoro seus comentários paranóicos:

"Deslocar a órbita do planeta."
"...essas becas de Harry Potter que traz a vocês uma aparência de aprendiz de feiticeiro..."

Parabens pelo discurso!

zadojr.blogspot.com

josuá barroso disse...

Salve André Azevedo!

Texto AD-MI-RÁ-VEL, impolgante. mto bom!
Adorei a part dos sacis, orixas, e etc...
Mágico!

Abração!
juventudepolitizada.blogspot.com

Unknown disse...

Adorei o texto! è o paraninfo que todo munda quer ter! Parabéns!