07 setembro 2018

Por Que a Esquerda Deve Prestar Solidariedade a Bolsonaro? #VLOG24





Em vez de acusar Bolsonaro de ter "colhido o que plantou" (culpando a vítima pelo crime), em vez de acusá-lo de ter fingido a agressão (baseando-se em fragmentos de imagens de Internet), em vez de acusar a esquerda pelo atentado (baseando-se em correntes de WhatsApp ou hashtags no Twitter), em vez de reproduzir imediatamente qualquer coisa que aparece nas redes sociais e tomar conclusões precipitadas e distorcidas, é hora de recuperar a lucidez e demonstrar em uníssono o repúdio à violência política.



A caravana de Lula sofreu atentado á bala. Marielle foi assassinada por motivações políticas. E agora Bolsonaro foi esfaqueado. É preciso que os culpados sejam identificados e punidos no estrito rigor da lei. Instigar os ânimos nesse momento e disseminar intolerância é o caminho certo para tempos de delírio, histeria e violência. Todos perderemos. Não é isso que queremos e nem o que precisamos.



Prepararem-se e estejam atentos às versões de oportunistas à esquerda e à direita que vão mentir para vocês.



E é dever de todos, sobretudo aqueles que defendem a democracia e a liberdade, prestar solidariedade a Bolsonaro neste momento. Não é preciso votar nele - e nem mesmo gostar dele - para expressar este ato de civilidade democrática e de defesa de valores fundamentais inegociáveis.



Me envergonho ao ver militantes à esquerda zombando da violência, da mesma forma como me enojo de militantes à direita disseminando fake news para culpar a esquerda. Desperdiçar tempo e energia com delírios, paranoias e mais intolerância política nos fará mal. Pensar sobre o clima de extremismo que parece querer sair do controle e trabalhar para que discursos de ódio e violências como essa não aconteçam é urgente.



Mas se Bolsonaro defende a tortura e nega os Direitos Humanos, por que ser solidário?



Respondo com tranquilidade: é precisamente isso que nos diferencia dele.



A defesa de todo e qualquer ser humano, sem distinções, é justamente um dos princípios básicos que ele nega. A condenação de Bolsonaro, em uma ação cível de indenização por incitação ao estupro, e a ação penal por racismo, devem ser sempre julgados pela Justiça. E as penas devem ser proporcionais. Se um dia apologia à torturadores for crime no Brasil, ele vai responder por isso, na medida da lei.



Vejamos esses pontos da Declaração Universal dos Direitos Humanos:



"Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. "



"Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante."



"Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte de que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso."



Esses são princípios básicos indispensáveis de qualquer nação que se quer civilizada. Mesmo o indivíduo que nega esses direitos, portanto, merece esses direitos. Se negarmos solidariedade a Bolsonaro, nos igualamos a ele. Vamos reproduzir precisamente o discurso de ódio que criticamos nele. Essa solidariedade não tem nada a ver com simpatia ou antipatia pelo que ele diz. Assim como não tem qualquer relação com os crimes que ele cometeu ou dos quais é réu. E é preciso ficar claro que essa solidariedade também não é hipócrita, justamente porque não se trata de uma questão moral. É uma questão ética. E civilizatória.



Link da Declaração Universal dos Direitos Humanos

http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf

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